JOSYE ALVES SILVINO
Psicóloga Clínica – CRP 06/51346-0
Ontem no consultório, minha primeira paciente
leu um texto que gostei muito que gostaria de compartilhar aqui no meu blog e
no final, quero comentar o último parágrafo.
“Ficar com muita gente é fácil”, diz um amigo meu, com pouco mais de 25
anos. “Difícil é achar alguém especial”.
Faz algum tempo que tivemos essa conversa. Ele tentava me explicar por
que, em meio a tantas garotas bonitas, a tantas baladas e viagens, ele não se
decidia a namorar.
Ele não disse que estava sobrando mulher. Não disse que seria um desperdício escolher apenas uma. Não falou em aproveitar a juventude ou o
momento e nem alegou que teria dificuldade em escolher. Disse apenas que é
difícil achar alguém especial.
Na hora, parado com ele na porta do elevador, aquilo me pareceu apenas
uma desculpa para quem, afinal, está curtindo a abundância. Foi depois que eu
vim a pensar que existe mesmo gente especial, e que é difícil topar com uma
delas.
Claro, o mundo está cheio de gente bonita. Também há pessoas disponíveis
para quase tudo, de sexo a asa delta. Para encontrar gente animada, basta ir ao
bar, descobrir a balada, chegar na festa quando estiver bombando. Se você não
for muito feio ou muito chato, vai se dar bem. Se você for jovem e bonita, vai
ter possibilidade de escolher. Pode-se viver assim por muito tempo,
experimentando, trocando de gente sem muita dor e quase sem culpa, descobrindo
prazeres e sensações que, no passado, estariam proibidos, especialmente às
mulheres.
Mas talvez isso tudo não seja suficiente.
Talvez seja preciso, para sentir-se realmente vivo, um tipo de sensação
que não se obtém apenas trocando de parceiro ou de parceira toda semana. Talvez
seja preciso, depois de algum tempo na farra, ficar apaixonado. Na verdade,
ficar apaixonado pode ser aquilo que nós procuramos o tempo inteiro – mas isso,
diria o meu jovem amigo, exige alguém especial.
Desde que ele usou essa fatídica expressão, eu fiquei pensando, mesmo
contra a minha vontade, sobre o que seria alguém especial, e ainda não
encontrei uma resposta satisfatória. Provavelmente porque ela não existe.
Você certamente já passou pela sensação engraçada de ouvir um amigo
explicando, incansavelmente, por que aquela garota por quem ele está apaixonado
é a mulher mais linda e mais encantadora do mundo – sem que você perceba, nela,
nada de especial. OK, a garota é bonitinha. OK, o sotaque dela é charmoso. Mas,
quem ouvisse ele falando, acharia que está namorando a irmã gêmea da Mila
Kunis. Para ele ela é única e quase sobrenatural, e isso basta.
Disso se deduz, eu acho, que a pessoa especial é aquela que nos faz
sentir especial.
Tenho uma amiga que anda apaixonada por um sujeito que eu, com a melhor
boa vontade, só consigo achar um coxinha. Mas o tal rapaz, que parece que
nasceu no cartório, faz com que ela se sinta a mulher mais sensual e mais
arrebatada do planeta. É uma química aparentemente inexplicável entre um
furacão e um copo de água mineral sem gás, mas que parece funcionar
maravilhosamente. Ela, linda e selvagem como um puma da montanha, escolheu o
cara que toma banho engravatado, entre tantos outros que se ofereciam, por que
ele a faz sentir-se de um modo que ninguém mais faz. E isso basta.
É preciso admitir que há gente que parece especial para todo mundo. Não
estou falando de atores e atrizes ou qualquer dessas celebridades que colonizam
as nossas fantasias sexuais como cupins. Falo de gente normal extremamente
sedutora. Isso existe, entre homens e entre mulheres. São aquelas pessoas com
quem todo mundo quer ficar. Aquelas por quem um número desproporcional de seres
humanos é apaixonado. Essas pessoas existem, estão em toda parte, circulam
entre nós provocando suspiros e viradas de pescoço, mas não acho que sejam a
resposta aos desejos de cada um de nós. Claro, todo mundo quer uma chance de
ficar com uma pessoa dessas. Mas, quando acontece, não é exatamente aquilo que se
imaginava. Você pode descobrir que a pessoa que todo mundo acha especial não é
especial para você.
Da minha parte, tendo pensado um pouco, acho que a pessoa especial é
aquele que enche a minha vida. Ela é a resposta às minhas ansiedades. Ela me dá
aquilo que eu nem sei que eu preciso – às vezes é paz, outras vezes confusão.
Eu tenho certeza que ela é linda por que não consigo deixar de olhá-la. Tenho
certeza que é a pessoa mais sensual do mundo, uma vez que eu não consigo tirar
as mãos dela. Certamente é brilhante, já que ela fala e eu babo. E, claro, a
mulher mais engraçada do mundo, pois me faz rir o tempo inteiro. Tem também um
senso de humor inteligentíssimo, visto que adora as minhas piadas. Com ela eu
viajo, durmo, como, transo e até brigo bem. Ela extrai o melhor e o pior de
mim, faz com que eu me sinta inteiro.
Deve ser isso que o meu amigo tinha em mente quando se referia a alguém
especial. Se for isso vale a pena. As pessoas que passam na nossa vida são
importantes, mas, de vez em quando, alguém tem de cavar um buraco bem fundo e
ficar. Essas são especiais e não são fáceis de achar.
Ivan Martins - editor-executivo da ÉPOCA
Cheguei à conclusão que muitas vezes, cavamos
esse buraco em nós mesmo e ficamos com ele vazio, criando uma expectativa de
que um outro, possa chegar e preencher, não temos a paciência de esperar alguém
especial cavar. Ninguém especial quer encontrar pessoas vazias, então a minha
sugestão, é que fiquemos completos, alegres com o que somos e temos, que
vivamos as nossas vidas com intensidade, até alguém especial chegar, cavar e
nos transbordar.
Rua Mal. Deodoro, 879 – Sala
316 – Centro – SBCampo-SP – Tels.: (11) 3424-7104 e (11) 97165-6281
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